São Paulo precisa se mover: desafios da mobilidade urbana integrada na maior cidade do Brasil

ônibus com transporte
Foto de Ant Rozetsky na Unsplash

São Paulo, a maior metrópole do Brasil e uma das maiores do mundo, enfrenta diariamente o desafio de transportar milhões de pessoas em seus deslocamentos urbanos.

Com uma população que já ultrapassa os 12 milhões de habitantes e uma frota de veículos que, especialmente nos horários de pico, transforma o trânsito em um verdadeiro caos, a mobilidade urbana se apresenta como uma das questões centrais para o próximo prefeito.

Nos últimos anos, conceitos inovadores vêm surgindo no cenário global para lidar com esse tipo de desafio.

Ações que aliam criatividade e tecnologia são fundamentais no sentido de migrar novos usuários para o transporte público, reduzindo o volume de carros nas ruas.

Muito se fala, por exemplo, da tarifa zero, da gratuidade.

Particularmente, entendo que a solução para transferir condutores de carros para o transporte público não está necessariamente ligada à questão financeira, mas, sim, na disponibilidade e na eficiência do serviço prestado.

Imagine pegar na porta de sua casa um táxi ou carro por aplicativo até a estação de metrô ou trem mais próxima.

De lá, usar o transporte por trilhos ou pegar um ônibus até o ponto a 100 metros de onde trabalha.

E tudo isso pagando um valor único já definido no começo de sua jornada.

Essa forma de mobilidade é o que chamamos de MaaS (Mobility as a Service) ou Mobilidade como Serviço.

Uma solução que integra diferentes meios de transporte em uma única plataforma, permitindo que o usuário planeje, reserve e pague sua viagem por meio de um aplicativo ou sistema centralizado.

Ou seja, o MaaS oferece uma abordagem que pode transformar significativamente a maneira como São Paulo se movimenta, com foco em eficiência, acessibilidade e sustentabilidade.

Essa integração permite ao cidadão escolher a melhor combinação de modais para seus deslocamentos diários, promovendo mais conveniência, economia de tempo e, potencialmente, uma expressiva redução nos custos individuais e coletivos do transporte.

Para isso, é preciso avançar significativamente na integração entre modais e resolver gargalos que afetam o transporte público.

E, pasmem, o gargalo não está na tecnologia!

A cidade de São Paulo já deu passos importantes nesse sentido, como a implementação de bilhetes integrados entre ônibus e metrô.

Ainda não há, no entanto, a integração com os ônibus que se deslocam para as demais cidades da região metropolitana ou com outros modais privados.

A integração plena entre os modais de transporte é o principal fator de sucesso para que o MaaS funcione de maneira eficiente.

Hoje, ainda existe em São Paulo uma fragmentação significativa entre os diferentes modais.

Para que o sistema de mobilidade urbana possa ser verdadeiramente transformado, será necessária uma integração tarifária, operacional e de dados entre os transportes coletivos e privados.

O transporte público, por exemplo, deve se conectar de maneira mais eficiente com serviços de transporte por aplicativo, táxis e bicicletas compartilhadas, proporcionando rotas flexíveis e alternativas para os diferentes tipos de viagens.

As PPPs serão fundamentais para viabilizar essa integração, garantindo que tanto o setor público quanto o privado trabalhem juntos em prol de um objetivo comum: melhorar a mobilidade de São Paulo.

A integração entre modais também pode trazer benefícios para a sustentabilidade da cidade.

Com a utilização de diferentes meios de transporte, de maneira eficiente, o uso de carros particulares diminui, fato que contribui diretamente para a redução da poluição e dos congestionamentos.

E para que a integração dos modais seja possível e que o MaaS funcione em São Paulo, a cidade precisa implementar uma Mobility Clearing House (Casa de Compensação de Mobilidade), que deve incluir tanto os transportadores públicos dos entes municipais ou estaduais, públicos ou privados, todos estruturados em uma governança que centralize as ações com eficiência e transparência.

Esse sistema de compensação pode atuar como uma central de gestão de dados e fluxos financeiros entre as diversas operadoras de transporte envolvidas no MaaS, garantindo que todos os serviços sejam pagos corretamente e que os usuários possam realizar suas viagens com mais fluidez.

A Mobility Clearing House atuaria como um intermediário que garante que os pagamentos feitos pelo usuário — seja via aplicativo, cartão ou qualquer outro meio — sejam distribuídos de maneira justa e transparente entre as diferentes operadoras envolvidas na viagem.

Isso permitirá que todos os participantes do ecossistema de mobilidade sejam remunerados de forma proporcional ao serviço prestado, incentivando a colaboração e o desenvolvimento de novas soluções de mobilidade.

A cidade de São Paulo ainda não tem essa integração, mas esse modelo de Mobility Clearing House já existe e está implantado com sucesso na Região Metropolitana de São Paulo, integrando EMTU, Metrô, CPTM e ônibus dos municípios de Arujá, Cotia, Taboão da Serra e Rio Grande da Serra.

O próximo prefeito de São Paulo tem uma oportunidade única de transformar a mobilidade urbana da cidade com a implantação do MaaS, uma solução viável e promissora para enfrentar o desafio de uma cidade congestionada e poluída.

Para que essa solução seja bem-sucedida, será necessário, porém, um forte compromisso com a integração entre modais e a implementação de uma Mobility Clearing House eficaz.

Mover São Paulo rumo a um futuro mais eficiente, sustentável e acessível exige uma visão estratégica e a colaboração entre governo, setor privado e população.

Com as medidas corretas, é possível criar uma cidade onde o transporte vá além de uma necessidade, mas seja um serviço que, de fato, melhore a qualidade de vida dos paulistanos.

Alô, futuro prefeito, São Paulo precisa se mover e o caminho é a integração.

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